Trecho do Livro AMAZON - Guerreiros da Amazônia - O Templo da Luz
– “Era uma vez um curumim, um indiozinho de nome Aguiri, da grande nação Sateré-Mawé4. Aguiri estava sempre pronto para ajudar seus amigos e a todos de sua tribo, mas ele não era querido só por isso. Ele chamava atenção pelos seus olhos, de um formato diferente e iluminado. Diziam que o olhar dele era assim porque só enxergava pelo coração.
Um dia, Aguiri decidiu fazer uma surpresa para os outros curumins, que brincavam em um rio. Foi de árvore em árvore colhendo frutos em uma cesta de juta5 que sua mãe fizera. Estava tão empolgado com aquela ideia, devido à felicidade que iria trazer ao grupo, que não percebeu que se afastara da sua aldeia como nunca antes fez. Para completar, a noite caiu rápido, pegando-o de surpresa. Não achando o caminho de volta, decidiu dormir no oco de umas dessas grandes árvores, protegendo-se dos animais noturnos e perigosos.
Acontece que o temido espírito Jurupari6, que tem o corpo peludo do morcego e o bico de uma coruja, andava por ali, já que se alimentava também de frutas. Ele não demorou sentir a presença de Aguiri e o atacou sem lhe dar chance de defesa.”
– Ele morreu? - perguntou Cynthia, roendo as unhas e com os olhos bem arregalados.
– E o que essa história trágica tem a ver com guaraná? Fala logo baiano! - perguntou Allan, também nitidamente intrigado.
Sem responder aos amigos, Kleyton continuou a narrar a lenda.
– “E o menino, mal o dia amanhecera, foi encontrado morto pelos índios de sua tribo. Os pais dele, os amigos, enfim, todos, estavam completamente desesperados e uma tristeza tomou conta da floresta de um modo tal que até os pássaros se calaram. De repente, se ouviu no céu um grande trovão e um raio iluminou o corpo de Aguiri.
Todos gritaram:
– É Tupã... É Tupã... Ele vai nos trazer o menino de volta!
O pajé daquela tribo teve uma visão e ouviu uma voz, bem macia e aveludada, vindo diretamente do seu coração. Pediu silêncio e todos se calaram. A voz disse para plantar os olhos do curumim ao pé de uma árvore seca, e regar com as lágrimas de seus amiguinhos. As lágrimas fariam nascer uma planta para dar felicidade a todos, pois aquele que provar de seu fruto sentirá as energias renovadas e seu coração se encherá de entusiasmo e alegria. Seguiram a ordem do pajé e uma árvore de frutos com a forma idêntica a dos olhos de Aguiri nasceu. Aquele povo deu então à fruta, em homenagem ao indiozinho, o nome de Guaraná, que no idioma Tupi significa ‘a árvore da vida e da vitalidade’”.